Dirigido por Sílvio Tendler, o documentário “Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global visto do lado de cá” traz depoimentos do próprio geógrafo Milton Santos, além de estudiosos de economia e ativistas sociais e políticos.O tema central enfatiza os problemas que surgiram com a globalização. A opressão dos países ricos aos países mais pobres e subdesenvolvidos, proporcionando discrepante diferença entre o hemisfério norte e o hemisfério sul.Milton Santos critica o fato do homem deixar de ser o centro do universo, posto atualmente ocupado pelo dinheiro.Através de imagens, vemos os protestos na Bolívia, Argentina, Brasil e em um fórum que sugeria a privatização da água potável.O geógrafo aponta as grandes corporações, o poder internacional, a inexistente democracia e a mídia como forma de manipulação; os reais vilões do “globalitarismo”, ou seja, uma nova forma de totalitarismo. Ele ainda destaca que nunca houve humanidade e que se alguma atitude for tomada, deverá partir das classes pobres e dominadas.Vemos ainda que, apesar de toda a dificuldade enfrentada, existem pessoas e grupos que conseguem se expressar e mostrar um pouco dessa realidade, como os rappers de Ceilândia, cidade satélite com alto índice de violência. Através da música, eles reforçam as suas identidades de moradores da periferia e fazem uso da arte para protestar e amenizar as dificuldades.Outro exemplo significativo é o da cineasta Aline Sasahara que registra o dia-a-dia do MST e ainda explica de maneira inteligente que a mídia mostra o que quer e da maneira que ela quer que o povo veja — “acontecem milhares de coisas todos os dias, mas a mídia mostra apenas algumas dessas coisas, dando a falsa idéia de que só aconteceu o que foi mostrado.”A mídia maquia a verdadeira globalização. Através da persuasão, é desenvolvida a capacidade de convencer a grande massa popular, reforçando a idéia de que as desigualdades provocadas pela globalização se fazem necessárias em detrimento do bem comum.De forma subjetiva, a mídia atinge seus objetivos no que diz respeito a reforçar as ideologias, transformar identidades, vender produtos e ideais de beleza, além de esteriotipar determinado povo ou cultura, como acontece com o Movimento dos Sem Terra.De acordo com Milton Santos, existem três globalizações, a primeira é o mundo que nos fazem ver; a segunda seria o mundo tal como ele é, “a globalização como perversidade”, e a terceira seria uma outra globalização: o mundo como ele pode ser.O documentário foi premiado com o Candango de Melhor Filme – Júri Popular, no Festival de Brasília, em 2006.